quinta-feira, setembro 21, 2017

O funcionalismo

As origens do funcionalismo estão no samsionismo, doutrina criada pelo filósofo Saint Simon. Influenciados pelo iluminismo, os samsionistas sonhavam mudar o mundo através da ciência e da tecnologia. Essa doutrina ajudou a criar a crença na importância social da ciência e da técnica e influenciou poderosamente o desenvolvimento industrial. As narrativas de Júlio Verne, em que a ciência tinha papel predominante, são a imagem mais conhecida dessas ideias.
Para os samsionistas, a sociedade era um corpo, no qual cada parte teria sua função. Nessa abordagem, os sistemas de comunicação teriam a mesma função que o sistema nervoso. Essa ideia de função da comunicação teria forte influência sobre os funcionalistas e daria nome a essa escola da comunicação.
O funcionalismo inicia de fato com a Escola de Chicago, na década de 1910. Liderados por Robert Erza Park, um repórter experiente em grandes reportagens e militante da causa negra, pesquisadores analisam a integração dos imigrantes na sociedade americana. Park descobre que os jornais (muito populares na época, com tiragens astronômicas) se tornam um forte elemento integrador. É através deles que os imigrantes aprendem a língua e a cultura americana.
Para Park, é a luta por espaço que rege as relações individuais. A função da comunicação é regular essa competição, permitindo aos indivíduos participarem da sociedade.
Segundo Park, as relações na sociedade passam por um processo de equilíbrio, crise, e volta ao equilíbrio. No caso dos imigrantes, esse esquema se daria através de competição, conflito, adaptação e assimilação. Ao final desse processo, o corpo social voltaria ao equilíbrio.
Dessas primeiras investigações surgem duas palavras fundamentais no funcionalismo: função e equilíbrio.
Outro autor importante no desenvolvimento da escola foi o sociólogo Charles Horton, criador do conceito de grupo primário. Sua teoria é uma critica aos autores que acreditavam que a urbanização destruía os vínculos entre as pessoas, criando uma massa amorfa. Para Horton, as pessoas continuavam tendo relações sociais através desses grupos: família, escola, trabalho, igreja e outros. Esse conceito seria fundamental em pesquisas funcionalistas posteriores.
Um dos marcos na fundação do funcionalismo foi a publicação do livro Propaganda Technique in the World War , de Harold Laswell, lançado em 1927, na qual ele argumenta que a derrota dos alemães na I Guerra Mundial se deu em decorrência da boa propaganda dos aliados.
Para Laswell, os meios de comunicação de massa são um meio para a gestão governamental de opiniões, já que a propaganda é um meio não violento de conseguir o apoio das massas.
Laswell também foi pioneiro ao propor um modelo de comunicação, resumido na frase: Quem diz o que para quem através de que canal com que efeito.
Talvez a mais célebre contribuição de Laswell para o estudo da comunicação tenha sido o conceito de agulha hipodérmica. Para Laswell, os meios de comunicação são como uma agulha, que injeta seus estímulos diretamente na mente dos receptores, provocando uma resposta por parte destes. Nesse ponto de vista, a mídia tem um poder absoluto sobre sua audiência.
A teoria hipodérmica teve enorme influência sobre a imaginação popular e foi base para romances distópicos, como 1984, de George Orwell, em que a televisão é usada para controlar a população.
Entretanto, os próprios pesquisadores funcionalistas logo perceberam que a influência da mídia não era tão grande quanto se pensava.
Lazzarsfeld, outro grande nome do funcionalismo, foi um dos primeiros a criticar a teoria hipodérmica. Suas pesquisas mostraram que as populações das grandes cidades não eram uma massa amorfa, como imaginava a teoria hipodérmica, mas tinha relações sociais fortes através dos grupos primários e estes filtravam o conteúdo da mídia. Assim, o poder dos MCM poderia ser ampliado pelo grupo primário (como no caso da juventude hitlerista, que reforçava a propaganda nazista) ou esse grupo poderia diminuir seus efeito (quando o grupo primário se posiciona contra  a mensagem da mídia).
Lazzarsfeld também aprimora a teoria sobre as funções sociais da mídia. Além das funções das funções de vigilância do meio, estabelecimento das relações sociais e transmissões sociais (propostas por Laswell), Lazzarsfeld acrescenta a função de entretimento e de atribuição de status. Dessa forma, os MCM legitimam o status das pessoas famosas ou criam status para os que não são famosos.

Lazzarsfeld também percebeu que a mídia pode cumprir o que ele chamou de disfunção narcotizante gerando apatia política por parte da população.

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