terça-feira, agosto 29, 2017

A era dos comics

No início do século surgi­ram dois personagens que modi­ficaram bastante a cara das HQs. Chamavam-se Mutt e Jeff,  cria­ção do desenhista Bud Fisher. Os dois trapa­lhões introduziram um novo veículo para as histórias em qua­drinhos americanas: a tira diária. Antes de­les os quadrinhos vinham separados do jornal, em suple­mentos dominicais. Depois de “Mutt e Jeff”, as HQs passaram a aparecer todos os dias nos jor­nais, fazendo parte da leitura diá­ria de milhares de pessoas em todo o mundo. O novo veículo se deu tão bem que até hoje são ra­ros os jornais que não têm tiras diárias. Além disso, o sucesso dessas séries humorísticas fez com que, nos EUA, os quadrinhos fossem chamados de comics.
O aparecimento das tiras provocou uma modificação for­mal nas histórias em quadrinhos. Surgiram dois tipos de tiras: as cômicas, em que o quadrinista tem que passar sua mensagem e fazer o leitor rir em, no máximo, cinco quadrinhos, e as seriadas, nas quais cada tira era só uma parte de uma história maior — que conti­nuava todos os dias nos jornais. Neste último tipo, a maior carga de suspense e informação tem que es­tar sempre no último quadrinho para prender o leitor à história.
Ferdinando, de AlI Capp, satirizou bastante essas situações de suspense, chegando a absurdos para prender a atenção do leitor.
    All Capp ficou famoso por introduzir a crítica social nos quadrinhos.
    Uma de suas histórias mais famosas é a dos Shmoos - animaizinhos brancos que colocam em pane o sistema capitalista.
    Encontrados por Ferdinando num vale perdido, os Shmoos não comiam nada, mas se reproduziam numa velocidade estupenda. Gostavam de brincar de apostar corrida e começavam com dois, mas no final já havia centenas. Muitas vezes o vencedor nem tinha nascido quando a corrida iniciara.
    Os Shmoos eram tão bons que morriam de compaixão quando viam alguém com fome. Se fossem cozidos viravam carne de porco, se fossem as­sados, viravam frango e se fossem fritos viravam peixe. Os Shmoos davam leite e ovos o bastante para ali­mentar toda a população ameri­cana. Sua pele era o melhor couro e até seus olhos eram aproveitados na forma de botões para as roupas.
    Quando Ferdinando chega com o casal de Shmoos, que agora já haviam se tornado centenas, todos na cidade ficam felizes, menos o dono da mercearia, pois ninguém mais compra dele. Assim, onde ia conseguir dinheiro? “Agora ninguém mais precisa de dinheiro”, respondem os outros.
    Como esses animaizinhos, mendigos não precisam mais esmolar, apaixonados já podem se casar e motoristas e mordomos se despedem de seus patrões.
    O dono de uma empresa de carne de porco vê suas vendas despencarem e chama um exterminador de pestes. Enquanto senhoras mal-amadas fazem passeatas contra os shmoos, por considerá-los anti-americanos, o exterminador traça seu plano: é necessário matar todos os bichinhos. Eles são enfileirados em grupos de seis para economizar munição.
    O exterminador de pestes acaba com os Shmoos e o dono da fábrica fica eufórico. Para comemorar, manda aumentar o preço de suas mercadorias.
    Essa história recentemente foi adaptada indevidamente pela versão televisão do Sítio do Pica-pau Amarelo, mas sem o conteúdo político. Na história, os Shmoos eram chamados de transgênios.

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