quinta-feira, agosto 31, 2017

Janela indiscreta


Janela indiscreta (Alfred Hitchcock, 1955) é um dos melhores filmes da história do cinema. Uma verdadeira aula de cinema (e, se você souber fazer as conexões necessárias, de quadrinhos).
Para quem não conhece a história, trata-se de um fotógrafo impossibilitado de sair de casa após quebrar uma perna que se diverte observando os vizinhos, até presenciar o que acha ter sido um assassinato.
A sequência inicial é uma ótima demonstração da força narrativa das imagens. A câmera passeia pelo conjunto de prédios e nesse passeio, sem que nenhuma palavra seja dita, conhecemos tanto o ambiente da história quanto seus personagens, suas manias, características, suas histórias. É um filme com múltiplas narrativas paralelas que são acompanhadas em sequências praticamente mudas, em que ouvimos uma ou outra frase. No final, uma outra sequência de imagens mudas fecha a narrativa e nos mostra o que aconteceu com cada um dos personagens.
É também um filme sobre a força da sugestão. Tudo é mais sugerido do que mostrado - a começar pelo próprio assassinato, que em nenhum momento é mostrado.
Exemplo dessa sugestão é a rua, lá fora, que é entrevista apenas por um pequeno corredor. Provavelmente havia cenário apenas no trecho que pode ser visto pelo expectador, mas este imagina a rua inteira.
Cinema, como quadrinhos, é a arte de mexer com a imaginação do receptor.

Os syndicates

Um dos fatores mais importantes para a popularização das histórias em quadrinhos em todo o mundo foi a criação dos syndicates. Acusados pe­los nacionalistas de terem sufocado os quadrinhos regionais, impondo a do­minação norte-americana, os syndi­cates são empresas distribuidoras de tiras de páginas dominicais.
     O primeiro syndicate surgiu de­vido ao problema jurídico com os per­sonagens da série “Os sobrinhos do capitão’.
     Essa HQ foi baseada em uma história infantil alemã, Max e Moritz, de autoria do poeta e cartunista Wilheim Bush. Essa obra, publicada originalmente em 1865, chegou a ser lançada no Brasil com o nome de Juca e Chico, com tradução de Olavo Bilac.
     Ainda menino, William Randolph Hearst viajou para a Europa com sua mãe e lá comprou diversos livros, entre eles Max e Moritz.
     Anos mais tarde, quando já era um magnata da imprensa norte-americana, decidiu incluir quadrinhos infantis em seu periódico, o New York Journal, e lembrou-se daquela história que o encantara quando criança. Assim, ele chamou um talentoso desenhista de origem alemã, Rudolf Dirks para criar personagens baseados em Max e Moritz.
     Dirks criou a série Katzenjammer Kids, algo como os garotos ressaca. Nela, são apresentados dois gêmeos, Hanz, de cabelos escuros, e Fritz, de cabelos claros, que passam o dia fazendo traquinagens. A mãe dos dois pestinhas, Mama Katzenjammer (no Brasil Dona Chucrutz) acha que tem dois anjinhos em casa e passa o dia fazendo deliciosas tortas para os dois.
     As vítimas inevitáveis da arte dos garotos são o capitão e inspetor escolar. Esses dois malandros gostariam de passar o tempo vadiando, mas acabam gastando metade do dia castigando os gêmeos e a outra metade sendo vítimas deles.
     Em 1913, Dirks passou seus personagens para o New York World, de propriedade do Joseph Pulitzer, o maior inimigo de Hearst. Esse considerou a deserção uma ofensa e resolveu brigar nos tribunais pelos personagens.
     Travou-se uma longa batalha judicial, mas o tribunal decidiu-se por uma solução conciliadora. Dirks poderia continuar desenhando seus personagens para o World, mas teria que trocar o título e Hearst poderia continuar publicando em seu jornal os personagens com o título e personagens originais. Para isso, o dono do New York Journal chamou o talentoso Harold Kner, que manteve o mesmo nível de qualidade da HQ.
      A discussão com os personagens de Dircks teve como resultado o primeiro syndicate: a International News Service - que ficaria conhecida mais tarde como King Features Syndicate.
      A partir daí os artistas dei­xavam de trabalhar para os jornais e passavam a produzir para os syndica­tes, que reproduziam suas histórias e vendiam para vários jornais. Isso ba­rateou muito o preço das HQs, pois a mesma tira era vendida para diversos jornais dos EUA e posteriormente de todo o mundo.
Um dos primeiros personagens a serem internacionalizados foi Pafún­cio, de George MacManus. Desenha­do em estilo “art-decó”, Pafúncio e Marocas (esse era o nome da série no Brasil) refletia a abastança da classe média americana no início do século. A pompa e a futilidade do norte-americano médio foram muito bem satirizadas nessa tira diária de MacManus.

A onda de quadrinhos humorísticos acabaria com a crise de 1929, que fez com que os leitores preferissem os quadrinhos de aventura.

Dart Vader foi inspirado nos nazistas?


Aparentemente sim. Darth Vader é considerado o maior vilão do cinema. Ele apareceu no primeiro filme da série Guerra nas Estrelas, Uma nova esperança. Era o arquétipo da maldade. Cruel, ele matava sem piedade os subordinados que o desapontavam e estava construindo uma arma capaz de detruir planetas inteiros.
Quando viram aquele vilão de capacete preto e voz cavernosa, muitos perceberam a semelhança com o uniforme nazista. De fato, o capacete é muito parecido. Além disso, a máscara usada por ele lembra muito o visual dos Afrikan Korps, os soldados que lutavam na África. Para se proteger contra as tempestades de areia, eles usavam óculos especiais e cobriam a boca com panos.


Por que George Lucas fez isso? Provavelmente para demonstrar, desde o primeiro momento, que se tratava de um vilão. Na época em que o filme foi feito o nazismo já estava no imaginário popular como sinônimo de maldade. Histórias em quadrinhos, filmes e seriados mostravam nazistas perpetuando crimes cruéis contra a humanidade. Usar a suástica seria óbvio demais, então ele optou por outro símbolo: o capacete dos soldados. 

Pedro Américo


Mash-up


Steve Rude


quarta-feira, agosto 30, 2017

Quadrinhos no Globo repórter


Acima matéria do Globo Repórter sobre o grupo RPM quando este se encontrava no auge da fama. O curioso é que o repórter Pedro Bial aproveita o tema para falar sobre quadrinhos. Na década de 1980 os quadrinhos estavam em tudo. Lembro que os amigos de faculdade acompanhavam, por exemplo, V de Vingança como hoje se acompanha séries (a verdadeira identidade de V era tema de debates acalorados). Assim não espanta ver o tema ser linkado até mesmo em uma matéria sobre uma banda de rock. Poderíamos imaginar que se a matéria fosse hoje essa ligação fosse feita com o mesmo personagem (o Demolidor), mas referenciando não os quadrinhos, mas os filmes e a série.

Quem planejou o atentado contra Hitler?


Foram os próprios oficiais alemães. Quando Hitler chegou ao poder, ele fez um acordo implícito com a aristocracia militar, mas esse acordo chegaria ao fim com a iminência da derrota alemã. A invasão dos aliados na Normandia fora a gota da d´água. Duas semanas depois desse fato, ele fez uma refeição com os marechais von Rundstedt e Erwin Rommel, no seu quartel-general nas proximidades de Margival, na Fraça. Desconfiado, Hitler primeiro esperou que todos provassem a comida. Quando saiu do encontro, Rommel comentou com o general Speidel que se Hitler não começasse uma negociação para uma cessar fogo no ocidente, eles teriam que agir.
A situação, de fato, era desesperadora. Os ingleses e americanos avançavam pelo Ocidente e, no Oriente, as tropas russas avançavam na direção de Berlim com fúria avassaladora.
Logo ficou claro que Hitler não negociaria com os aliados. Para ele, só existia a vitória ou a destruição da Alemanha. A única maneira de reverter a situação era matar o fuhrer.Assim um pequeno grupo de conspiradores, todos militares, entrou em ação.
O escolhido para dar encaminhamento ao plano foi  o Conde Von Stauffenberg, um mutilado de guerra.
No dia 20 de julho de 1944, ele compareceu a uma reunião no QG do Front Oriental. Levava consigo duas bombas com um mecanismo que, uma vez acionado, provocariam uma grande destruição. Ele entrou em uma sala e armou a primeira bomba. Mas o medo de ser descoberto fez com que ele desistisse de armar a segunda.
Em seguida, Von Stauffenberg entrou na sala onde estava Hitler e seu Estado-Maior, em pé, ao redor de uma mesa, sobre o qual se encontrava um mapa. O conde colocou a mala na qual estava a bomba ao lado de Hitler, no chão, e saiu.
A bomba explodiu como esperado e parecia impossível que o fuhrer tivesse sobrevivido. Mas foi isso que aconteceu. Apesar de estar ao lado da bomba, ele, aparentemente, foi protegido pela mesa. Havia 24 pessoas na sala. Onze delas sairam gravemente feridos e alguns morreram nos dias seguintes, mas Hitler teve apenas escoriações leves.

Comentando o caso com o ditador Benito Mussolini, o Führer disse-lhe que o episódio o convencera de que estava destinado a continuar em sua grande causa. 

terça-feira, agosto 29, 2017

Entrevista para o portal Sinestesia

O portal Sinestesia, uma das maiores referências brasileiras sobre cultura, realizou uma entrevista comigo sobre meu trabalho como escritor e roteirista. Para conferir, clique aqui.

Secos & Molhados - Flores Astrais - Clipe na íntegra

A era dos comics

No início do século surgi­ram dois personagens que modi­ficaram bastante a cara das HQs. Chamavam-se Mutt e Jeff,  cria­ção do desenhista Bud Fisher. Os dois trapa­lhões introduziram um novo veículo para as histórias em qua­drinhos americanas: a tira diária. Antes de­les os quadrinhos vinham separados do jornal, em suple­mentos dominicais. Depois de “Mutt e Jeff”, as HQs passaram a aparecer todos os dias nos jor­nais, fazendo parte da leitura diá­ria de milhares de pessoas em todo o mundo. O novo veículo se deu tão bem que até hoje são ra­ros os jornais que não têm tiras diárias. Além disso, o sucesso dessas séries humorísticas fez com que, nos EUA, os quadrinhos fossem chamados de comics.
O aparecimento das tiras provocou uma modificação for­mal nas histórias em quadrinhos. Surgiram dois tipos de tiras: as cômicas, em que o quadrinista tem que passar sua mensagem e fazer o leitor rir em, no máximo, cinco quadrinhos, e as seriadas, nas quais cada tira era só uma parte de uma história maior — que conti­nuava todos os dias nos jornais. Neste último tipo, a maior carga de suspense e informação tem que es­tar sempre no último quadrinho para prender o leitor à história.
Ferdinando, de AlI Capp, satirizou bastante essas situações de suspense, chegando a absurdos para prender a atenção do leitor.
    All Capp ficou famoso por introduzir a crítica social nos quadrinhos.
    Uma de suas histórias mais famosas é a dos Shmoos - animaizinhos brancos que colocam em pane o sistema capitalista.
    Encontrados por Ferdinando num vale perdido, os Shmoos não comiam nada, mas se reproduziam numa velocidade estupenda. Gostavam de brincar de apostar corrida e começavam com dois, mas no final já havia centenas. Muitas vezes o vencedor nem tinha nascido quando a corrida iniciara.
    Os Shmoos eram tão bons que morriam de compaixão quando viam alguém com fome. Se fossem cozidos viravam carne de porco, se fossem as­sados, viravam frango e se fossem fritos viravam peixe. Os Shmoos davam leite e ovos o bastante para ali­mentar toda a população ameri­cana. Sua pele era o melhor couro e até seus olhos eram aproveitados na forma de botões para as roupas.
    Quando Ferdinando chega com o casal de Shmoos, que agora já haviam se tornado centenas, todos na cidade ficam felizes, menos o dono da mercearia, pois ninguém mais compra dele. Assim, onde ia conseguir dinheiro? “Agora ninguém mais precisa de dinheiro”, respondem os outros.
    Como esses animaizinhos, mendigos não precisam mais esmolar, apaixonados já podem se casar e motoristas e mordomos se despedem de seus patrões.
    O dono de uma empresa de carne de porco vê suas vendas despencarem e chama um exterminador de pestes. Enquanto senhoras mal-amadas fazem passeatas contra os shmoos, por considerá-los anti-americanos, o exterminador traça seu plano: é necessário matar todos os bichinhos. Eles são enfileirados em grupos de seis para economizar munição.
    O exterminador de pestes acaba com os Shmoos e o dono da fábrica fica eufórico. Para comemorar, manda aumentar o preço de suas mercadorias.
    Essa história recentemente foi adaptada indevidamente pela versão televisão do Sítio do Pica-pau Amarelo, mas sem o conteúdo político. Na história, os Shmoos eram chamados de transgênios.

O que é primavera para Hitler?


Primavera para Hitler é o nome de um filme do diretor norte-americano Mel Brooks, de 1968. O filme conta a história de dois produtores de Hollywood que se vêm completamente falidos e elaboram uma trama para tirar dinheiro de patrocinadores, montando um filme que será um fracasso absoluto.

A idéia é fazer o pior musical de todos os tempos. Para isso eles escolhem um musical nazista intitulado Primavera para Hitler, de autoria do hitlerista  Franz Liebkind. Eles imaginam que a afronta será tão grande que o fiasco se tornará inevitável. Mas acontece exatamene o contrário. O que era para ser sério, é visto como piada e o filme torna-se um sucesso absoluto de público, pois todos os norte-americanos querem rir de Hitler. 

Francesco Francavilla


segunda-feira, agosto 28, 2017

100 anos de Jack Kirby

Este ano comemora-se 100 anos do rei dos quadrinhos, responsável pela criação ou co-criação de grande parte dos super-heróis mais populares do mundo. Na definição de Alan Moore, "Jack Kirby criava um mundo antes do café da manhã". Além de criador inigualável, ele era um grande desenhista, que revolucionou o design das páginas com diagramações grandiosas e dinâmicas. Abaixo coloco alguns de seus desenhos. Deliciem-se. 
















Alex Niño





Na venezuela é proibido chamar o filho de Hitler?


Sim. Recentemente as autoridades venezuelanas proibiram o uso descontrolado de nomes como Hitler, Apolo Três e John Wayne.
Agora os venezuelas devem escolher entre 100 possibilidades, o que provocou muitas crítica. A excessão são as tribos indígenas e estrangeiros.
A proibição ocorreu porque na Venezuela é muito comum colocar nos filhos nomes de personalidades da história ou até de cidades e acontecimentos famosos. Assim, é possível encontrar naquele país pessoas chamadas  Hitler, Mussolini, Nixon, Ronald Reagan, Kennedy, Eisenhower , Hochiminh e Hiroshima. Há casos de pessoas com nomes muito complexos, como Temutchin do Espírito Santo Rojas Fernández, cujo primeiro nome é Gengis Khan.

As autoridade alegam que a proibição tem o objetivo de evitar constrangimentos para as crianças. 

domingo, agosto 27, 2017

Difundir nazismo no Brasil é crime?


De acordo com decisão do Supremo Tribunal Federal, tomada em 2003, publicar material de conteúdo nazista, divulgando o anti-semitismo, é crime de racismo. A decisão foi tomada numa sessão que julgou o recurso do editor gaúcho Siegfried Ellwanger, dono da editora Revisão, que tem publicado diversos livros nos quais prega o ódio ao povo judeu, entre eles “Holocausto: judeu ou alemão?”.
Ellwanger havia sido condenado, pelo Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul, a dois anos de prisão e seu advogado entrou com habeas corpus no Supremo.
Os advogados argumentavam que a sentença feria o direito à liberdade de expressão. O relator da questão, Ministro Moreira Alves (recentemente aposentado), votou favoravelmente ao editor, por achar que os judeus são um povo, e não raça, o que descaracterizaria o racismo.
Entretanto, a maioria dos Ministros votou pela condenação do editor, por entender que  "A prática do anti-semitismo é crime de racismo, sendo portanto imprescritível e inafiançável”.
O Ministro Gilmar Mendes lembrou que os judeus foram estigmatizados como ‘raça inferior’ desde que Hitler criou, na Alemanha, ‘o primeiro Estado racial na Europa’. Além disso, chamou a atenção para o ressurgimento de anti-semitismo e xenofobia na Europa.

Os Ministros rechaçaram o argumento de que a condenação do editor por publicar e distribuir livros - ainda que racistas - violaria o princípio da liberdade de expressão, pois, para eles esse direito não pode estar acima da dignidade humana. 

Professora comunista

- Professora, a terra é plana. 
- Não, não é. 
- Professora comunista!

A terrível vida real de Tom Strong

A terrível vida real de Tom Strong é o primeiro volume da série lançada pela Panini escrita e desenhada exclusivamente por convidados. Escritores e artistas receberam uma tarefa inglória: igualar a fase de Alan Moore, explorando aspectos ainda não explorados na série. 
O resultado é irregular. 
No geral, as histórias seguem uma média. Mas dois se destacam, por motivos diversos. 
Steve Aylett e Shawn McManus fazem a pior história da revista. Mal-ajambrada, muitas vezes sem sentido e distantes da proposta do personagem. Personagens irreais surgem do nada e não há preocupação em se criar verossimilhança para eles. Parece alguém tentando imitar Grant Morrison na Patrulha do Destino, mas com o personagem errado.
O melhor exemplo é a história que dá título ao volume, escrita por Ed Brubaker e com desenhos Ducan Fegredo. Nela, usando um artefato maia, um vilão consegue criar uma realidade em que Tom Strong não existe - e o herói se torna um simples operário em um mundo decadente, sujo, repleto de políticos corruptos. É o tipo de história que se encaixa no personagem e a sacada irônica do final é realmente genial.

Tom Strong - nos confins do mundo

O último volume da série Tom Strong volta a trazer roteiristas e artistas convidados (com a volta de Alan Moore na última história). O grande destaque sem dúvida é a participação de Michael Moorcock, famoso escritor de fantasia, criador do personagem Elric. 
Moorcock coloca o herói em uma história de piratas dimensionais. Há várias referências aí: o investigador metatemporal que contata Tom Strong é nitidamente uma referência ao Dr. Who e o vilão da história parece ter saído diretamente Melniboné (a ilha de Elric). O desenho de Jerry Ordway se encaixa perfeitamente na narrativa, com um traço mais sujo que a média da seríe. Steve Moore constrói uma HQ explorando os elementos pulp fiction do personagem. Joe Casey escreve uma história em que Pneuman começa a assumir comportamento estranho para um robô e Peter Hogan costura uma ponta solta da série.
E, claro, temos a volta de Alan Moore, na última história, interligada com a saga final de Promethea. Alan Moore é Alan Moore, de modo que mesmo que as outras histórias sejam boas, esta é um salto de qualidade no texto, a ponto de tornar interessante uma HQ em que nenhuma ação de fato acontece (embora o final nos reserve uma grande virada).

Buenos Aires - guia de viagem

Visitar Buenos Aires pode ser uma experiência interessante. Embora seja um país colado ao nosso, tem grandes diferenças culturais. Recentemente tive a oportunidade de conhecer a capital portenha. Compartilho aqui algumas de minhas impressões. 

A primeira coisa que chama atenção do turista é a diferença gastronômica. A comida argentina é muito diferente da brasileira. Ao contrário do Brasil, onde todo prato vem com acompanhamento de arroz e feijão, na Argentina o arroz é pouco comum. Feijão é praticamente impossível de ser encontrado (eu não vi em nenhum restaurante). Um prato típico argentino é carne com batata frita. E não é pouca carne: é um pedaço enorme, que ocupa quase todo o prato. Se for churrasco, é carne repleta de gordura. Os amantes de carne devem adorar. 

Outra diferença cultural é no café da manhã. Num hotel brasileiro, o café da manhã normalmente inclui frutas cortadas em fatias (melão, abacaxi, mamão, manga, etc), sucos naturais, café, leite, pão, bolos, queijo e presunto. Um café da manhã argentino é baseado principalmente em doce. Tudo é doce. De fruta, apenas sala de fruta, com muita laranja e um outro pedaço de outra fruta (diga-se de passagem, é uma laranja deliciosa, mas você enjoa depois do segundo dia). Os hotéis colocam na mesa até algo parecido com brigadeiros (eu não experimentei). Para um brasileiro comum é muito açúcar, inclusive no suco. Uma boa dica é experimentar o medialuna (um folheado no formato de meia-lua), desde que ela não seja caramelizada. Diabéticos devem ter sérios problemas na Argentina. 

Na cidade existem atrações básicas, o tipo de coisa que nenhum turista pode perder. Na minha opinião, a feira de San Telmo entra nessa categoria. É uma feira enorme que acontece aos domingos, próxima à casa rosada, que pega várias ruas. Na feira é possível comprar os mais variados produtos argentinos, artesanato, livros ver shows de tango. Sem falar que há vários restaurantes em volta. É programa para o dia inteiro. Na feira de San Telmo fica o famoso banco de praça com a personagem Mafalda, parada obrigatória para os turistas. Mas prepare-se para a fila: sempre há muita gente querendo fotografar com a personagem. Um pouco mais abaixo há uma estátua de Izidoro, personagem clássico da HQ portenha, menos famoso que a Mafalda, mas que vale uma conferida. Aliás, na esquina da estátua da Mafalda há uma lanchonete que vende lanches temáticos baseados no universo criado por Quino e lembranças. 

Feira de San Telmo.


Aliás, Mafalda é uma verdadeira febre na Argentina. Na feira é possível encontrar de tudo relacionado à personagem, desde livros de tiras a camisas e travesseiros. 

Para os fãs de quadrinhos vale conhecer o personagem Eternauta, que se tornou símbolo da luta contra a ditadura depois que seu autor, o roteirista Hector Oeterheld, foi morto pela ditadura militar. Na feira é fácil achar livreiros vendendo álbuns do Eternauta e até camisas do personagem. 

 

Outra local famoso é a Ricoleta. A praça tem uma pequena feira (com menos variedade e preços bem mais altos que a feira de San Telmo), mas o que vale mesmo é uma visita à igreja e principalmente ao belíssimo cemitério. Os túmulos são verdadeiras obras de arte. É ali que está o corpo de Evita, mas não há qualquer identificação específica. Ocorre que ele foi enterrado junto com seus parentes. Assim, procure pelo túmulo da família Duarte, seu sobrenome de solteira. 

Cemitério da Rocoleta.


Gostando ou não do peronismo, vale uma visita ao Museu Evita. É o melhor museu que visitei na capital portenha e uma aula de história. Implantado numa casa que servia de abrigo para mulheres desamparadas (uma casa de passagem), o museu foi estruturado de forma que você vai entrando de sala em sala e conhecendo a vida de Evita desde sua infância até sua morte. É possível, por exemplo, ver trechos de seus filmes, ouvir áudios de seus discursos, conhecer suas obras sociais. O Museu é acima de tudo o retrato de uma história de amor. Peron era tão apaixonado e fascinado por Evita que, ao ser eleito presidente da Argentina pela primeira vez, fez questão de tirar a foto oficial ao lado de sua esposa. A imagem de seu último discurso quando Evita, já com câncer, encosta a cabeça no peito do marido, é emocionante. O uso de recursos áudio-visuais aliados à própria estrutura da casa criam uma espécie de imersão que poucas vezes vi em um museu. 

Museu de Belas Artes

 

Próximo da Ricoleta fica o Museu de Belas Artes, que vale uma visita. Embora o acervo não seja tão impressionante quanto o do MASP, por exemplo, há várias obras importantes da história da arte. O Museu vale inclusive pelo próprio prédio. Aliás, para quem gosta de arquitetura, Buenos Aires é um paraíso. O centro histórico é marcado por belíssimos prédios nos mais variados estilos, do neo-clássico ao gótico, passando pelo art-noveau. É uma verdadeira miríade de estilos. O Congresso Nacional, todo em estilo neo-clássico, por exemplo, é visita obrigatória, mesmo que seja apenas para observar sua fachada. 

Não há como falar em Buenos Aires sem falar em tango. Muitos hotéis oferecem pacotes que incluem translado, jantar (com entrada, prato principal e sobremesa) e show. Os preços são acima de 160 reais por pessoa. Deve agradar quem gosta muito de carne. Pessoalmente, não achei que jantar valeu a pena. O show, por outro lado, é realmente maravilhoso. 

Mas, para quem quiser apenas o show, uma opção melhor é o Centro Cultural Jorge Luís Borges, que oferece espetáculos de tango ao preço em média de 70 reais por pessoa. Aliás, o local vale a visita. Além de mostras de arte, há uma exposição dedicada ao mais importante escritor argentino e um dos mais importantes do século XX, onde é possível ver curiosidades, como seus livros, um desenho infantil (de um tigre) e outros. 

Ainda sobre tango, é possível ver shows gratuitos no Caminito. O local tem várias galerias de artesanato e restaurantes e bares que oferecem espetáculos o dia inteiro. O preço da comida é salgado, mas é possível ver as apresentações de tango mesmo sem ser cliente, já que eles acontecem na frente dos restaurantes. Outra atração é o Museu Histórico Nacional, bastante amplo, instalado num prédio de belíssima arquitetura. O único defeito é que o Museu se dedica apenas a fatos antigos, da época da independência da argentina. Fatos como a ditadura e a guerra das Malvinas são só mencionados. 

Museu de Ciências Naturais.


Há ainda o Museu Argentino de Ciências Naturais com uma incrível coleção de fósseis de dinossauros. Um aspecto negativo é que é um museu do tipo antigo, contemplativo. Não há, por exemplo, toda a interatividade do Museu de ciências da PUC, em Porto Alegre, por exemplo (depois que voltei para o Brasil descobri que existe o Museu de Ciências, no bairro da Ricoleta, que tem essa característica de interatividade). 

Para quem gosta de ler, Buenos Aires é um paraíso. Há diversas livrarias e muitos sebos. A avenida Corrientes (uma das que cortam o Obelisco) tem praticamente um sebo ou livraria a cada quarteirão, ou mais. Eu consegui, por exemplo, vários números da coleção do jornal Clarin de clássicos dos quadrinhos, além de livros Jorge Luís Borges em capa dura a preço baixo (menos de 10 reais cada). 

Mas, como toda cidade, Buenos aires tem seus aspectos negativos. Um deles são os golpes aplicados contra turistas. O mais conhecido deles é o do câmbio. Em ruas de comércio, como a Florida, é possível encontrar diversas pessoas oferecendo câmbio. Consta que muitos deles trocam real, dólar ou euro por pesos falsos. Assim, o ideal é fazer a troca em casas de câmbio oficiais e nunca trocar muito dinheiro de uma vez só. Também é comum se aproveitarem da diferença da língua e da moeda para passarem troco errado ou cobrarem produtos que não foram consumidos (aconteceu comigo). 

Até mesmo o translado hotel-aeroporto pode ser um problema. No meu caso me foi oferecido translado pelo próprio hotel, ao preço de 330 pesos. Paguei no balcão do hotel e recebi um recibo que, vendo depois, não tinha nem mesmo o nome do atendente do hotel. No dia da viagem, ao chegarmos no aeroporto de Ezeiza, o motorista (não era um taxi e não havia qualquer identificação no veículo) me disse que eu tinha que lhe pagar 450 pesos. Mostrei o recibo do hotel e ele disse que não tinha nada a ver com o que eu havia pago ao hotel e que só liberaria as malas diante do pagamento de 450 pesos. Depois que paguei, pedi recibo, ao que ele incialmente recusou. Depois de uma longa discussão (e a preocupação de perder o vôo), consegui um recibo que constava apenas o primeiro nome do motorista e nenhuma outra identificação.

Minha sugestão para quem viaja para Buenos Aires é não usar o serviço de translado do hotel. O ideal é combinar com um taxista credenciado (os taxis oficiais têm uma placa com todas as informações sobre o veículo e o condutor), pagar antes da corrida e pedir recibo. Isso pode evitar muita dor de cabeça. 

sábado, agosto 26, 2017

Julliette society


Sasha Grey era uma garota meio nerd que queria ser atriz pornô, apesar de não se encaixar no gênero gostosona. Conseguiu, depois aposentou-se e tornou-se atriz e escritora.
Juliette Society é seu primeiro livro e mostra que existe sim, vida inteligente no mundo pornô.
O livro é bem escrito, com uma prosa leve, mas nem de longe pobre.
O Julliete Society do título é uma organização secreta da qual participam os homens que mandam no mundo.
O nome é uma referência a um dos romances mais famosos do Marquês de Sade, Justine. Julliete é a irmã devassa da pudica Justine. Na obra de Sade, enquanto Justine é castigada pelo destino, sua inocência sendo constantemente punida, Julliete é brindada com o sucesso quanto menos inocente e mais sexualizada se mostra.
O capítulo que explica o título mostra bem que se trata de um livro diferente da maioria dos eróticos. Sasha Grey (cujo pseudônimo é uma homenagem ao romance O retrato de Dorian Gray) discorre sobre história, filosofia, literatura. E cinema. A protagonista é uma estudante de cinema, o que leva a diversas citações e referências a obras famosas da sétima arte, como A bela da tarde, de Buñuel.
Na verdade, o livro funciona pouco do ponto de vista do erotismo. É mais um triller usando como fundo o conhecimento da autora sobre o meio pornô recheado de filosofia, cinema e literatura.
A parte menos interessante é o final, mal-amarrado, em que o livro, que até então ia em pleno realismo, flerta com o fantástico.
Ainda assim, vale a leitura.

Far side