quarta-feira, setembro 21, 2016

O homem que inventou o natal




Até o início do século XIX o natal era uma data pouco comemorada e muitas vezes proibida por ser considerada não-cristã. Tudo mudou em 1843, quando Charles Dickens escreveu seu pequeno conto de natal sobre um homem rico e avaro que é visitado por fantasmas.
É sobre esse livro que se debruça Les Standiford no volume O homem que inventou o Natal.
O autor entremeia a biografia do autor (da infância miserável ao sucesso, passando pela decadência nas vendas, da qual seria salvo exatamente pelo Conto de Natal) ao processo de criação da história, passando pela ideologia de Dickens, segundo o qual a ignorância e a miséria eram males a serem combatidos (e seu conto seria uma arma importante nessa guerra).
Algo a se destacar é que o pequeno livro de Dickens (que dificilmente daria mais de 100 páginas) gerou uma obra de quase 200 páginas, o que mostra o quanto era rico o texto original.
Standiford faz um bom histórico do natal antes de Dickens e uma boa análise de como o conto influenciou a visão que hoje temos dessa data, com quase todos os elementos presentes na obra do autor inglês (exceto a troca de presentes, aspecto comercial que não se encaixava na proposta de Dickens).
A prosa é fluída mesmo quando o autor se dedica a analisar literariamente o texto de Dickens.
Talvez o aspecto mais fraco seja a parte referente às adaptações. São referenciadas apenas as adaptações diretas e o autor simplesmente ignora duas adaptações de grande sucesso. A primeira, delas, o Tio Patinhas (cujo nome original, Uncle Scrooge, é uma referência direta ao protagonista do conto de natal). A segunda, o filme Do mundo nada se leva, de Frank Kapra, talvez o mais famoso filme de natal de todos os tempos, diretamente retirado do livro seguinte de Dickens sobre o tema, Os Carrilhões.

sábado, setembro 17, 2016

Decorar é aprender?

Uma cena que tem sido usada como exemplo tanto pelos adeptos das escolas militarizadas quanto do escola sem partido (ao que me parece, são o mesmo grupo) é de um militar tomando a tabuada de crianças numa escola. A cena é aplaudida como exemplo do sucesso desse modelo ao mostrar crianças sabendo a tabuada de cor. 
Mas a pergunta essencial aí é: isso é aprender? 
A verdade é que decorar a tabuada não é relevante. O que é realmente relevante é o que se faz com a tabuada. Uma pessoa pode saber a tabuada de cor e salteado e ser incapaz de passar um troco. 
Por outro lado, Benoit Mandelbrot não aprendeu a tabuada (de família judia ele passou a infância fugindo dos nazistas e não teve uma educação matemática formal), mas criou a geometria fractal e foi um dos mais importantes matemáticos do século XX. 
Eu nunca decorei a tabuada (quando a professora tomava a tabuada eu tinha um método próprio para responder às perguntas). No entanto, acabei me especializando, dentro do campo da comunicação justamente na teoria da informação, na cibernética e teoria do caos, todas de base matemática.
Entender a lógica por trás de algo é muito mais importante do que decorar. Até mesmo um papagaio pode ser ensinado a recitar a tabuada.

terça-feira, setembro 13, 2016

Gazeta do Povo considera livro sobre a Grafipar um dos destaques da Bienal de Quadrinhos


Meu livro sobre a Grafipar, que resgata a história da antológica editora paranaense, foi considerado um dos destaques da Bienal de Quadrinhos pelo jornal Gazeta do Povo. Confira a matéria aqui.

Gazeta do Povo considera livro sobre a Grafipar como um dos destaques da Bienal de Quadrinhos


Meu livro sobre a Grafipar, que resgata a história da antológica editora paranaense, foi considerado um dos destaques da Bienal de Quadrinhos pelo jornal Gazeta do Povo. Confira a matéria aqui.

A escola sem partido, a ética e as convicções morais


A maioria das pessoas que defende o projeto Escola sem partido acredita que quem será afetado será aquele professor militante político, o cara que vai para a escola vestindo boina e camisa de Chê Guevara. Outros se baseiam apenas no nome da lei, um nome completamente enganoso, já que a lei não proíbe partidos de fazerem campanhas eleitorais dentro das escolas.
Na verdade, a coisa toda foi muito bem pensada: acharam um nome com o qual todo mundo concordasse para agradar um grupo de radicais, parecer fazer o bem e, ao mesmo tempo, estimular ao máximo denúncias contra professores.
Quase ninguém que defende o Escola sem partido leu o projeto, que no seu preâmbulo parece lindo, diz favorecer o debate na sala de aula, os vários pontos de vista etc...
Mas a coisa realmente complica é no trecho que define o que é proibido, o que é denunciável.
Como políticos são políticos, eles envolveram sua pílula num doce bonito e gostoso, mas o que era realmente importante estava no artigo 3:

"Art. 3º. São vedadas, em sala de aula, a prática de doutrinação política e ideológica BEM COMO A VEICULAÇÃO DE CONTEÚDOS OU A REALIZAÇÃO DE ATIVIDADES QUE POSSAM ESTAR EM CONFLITO COM AS CONVICÇÕES RELIGIOSAS OU MORAIS DOS PAIS OU RESPONSÁVEIS PELOS ESTUDANTES"

Observem como  as palavras foram muito bem escolhidas para permitirem o máximo de denúncias. O texto poderia ter parado em doutrinação política e ideológica (e até aí eu concordo plenamente). Mas observe que depois vem a proibição de qualquer conteúdo ou atividade que possa estar em conflito com as convicções religiosas ou morais dos pais.
Observem como é evitada a palavra ética em prol da palavra moral.
A ética trata de princípios básicos, universais, de convivência humana. O que é ético, é sempre ético. A moral varia de pessoa para pessoa, de cultura para cultura e até de época para época. Não é à toa que a lei fala em convicção, o que destaca o valor individual da moral. 
Não faz muito tempo, o casamento entre uma mulher branca e um homem negro era considerado imoral (para algumas pessoas ainda é). A escravidão foi considera moral, embora não fosse ética. 
Em alguns momentos, ética e moral podem se encontrar, como por exemplo, na questão de não roubar outra pessoa. Mas na grande maioria das vezes, são coisas muito distintas. 
Um exemplo: uma professora que joga lixo no chão está sendo anti-ética. Seu comportamento pode ser imitado pelos alunos e jogar lixo no chão prejudica toda a comunidade. Mas dificilmente alguém diria que a atitude da professora foi imoral. 
Por outro lado, para muitas pessoas a tatuagem é considerada imoral, portanto um professor que tem tatuagens é imoral, enquanto que para outras pode ser algo absolutamente normal. Ao dizer que estão proibidas a "VEICULAÇÃO DE CONTEÚDOS OU A REALIZAÇÃO DE ATIVIDADES QUE POSSAM ESTAR EM CONFLITO COM AS CONVICÇÕES RELIGIOSAS OU MORAIS DOS PAIS OU RESPONSÁVEIS PELOS ESTUDANTES" a lei deixa para o pessoal e subjetivo a decisão sobre o que é aceitável ou não em sala de aula. 
Em outras palavras: a lei estimula todo tipo de denúncia. Pior: pela lei isso deverá ser afixado na frente de todas as portas de aula. Políticos são espertos: eles sabem que isso vai estimular ainda mais as denúncias num leque extremamente amplo de atividades ou conteúdos que possam estar contra a moralidade deste ou daquele indivíduo.

domingo, setembro 11, 2016

A tal ideologia de gênero...

Uma das principais justificativas para a criação da lei Escola sem partido é a tal ideologia de gênero. 

99,9% dos professores não sabe e não tem a menor intenção de saber o que é essa tal de ideologia de gênero. 
Mas o Brasil e especialmente os professores viraram reféns de dois grupos radicais, um a favor e um contra a ideologia de gênero, ambos apoiados por políticos que têm interesse em piorar a educação brasileira para facilitar a manipulação. 

E essa tal de ideologia de gênero tem sido usada para justificar todo tipo de absurdo, de tratar professor como bandido a aprovar uma lei generalista e denuncista que vai permitir demissões em massa de professores concursados (e que é tão manipuladora que permite partidos políticos fazerem campanha dentro das escolas).

Se esses dois grupelhos de radicais morresse não fariam a menor falta e os educadores receberiam a notícia com um suspiro de alívio porque, finalmente, se começaria a discutir os problemas reais da educação brasileira, como a total falta de estrutura das escolas, as turmas lotadas, professores ganhando menos que um salário mínimo, o déficit de mais de 170 mil professores etc.

quarta-feira, setembro 07, 2016

Bienal de quadrinhos: Livros de Gian Danton em promoção


Estarei na mesa 48, na Bienal de quadrinhos, vendendo meus livros por preços exclusivos.
Confira abaixo as promoções:

UIVO DA GÓRGONA
De: 35 reais
Por 20 reais

COMO ESCREVER QUADRINHOS
De: 25 reais
Por: 20 reais

FAMÍLIA TITÃ
De: 30 reais
Por: 20 reais

FRANCISCO IWERTEN - BIOGRAFIA DE UMA LENDA
De: 20 reais
Por: 15 reais

GRAFIPAR, A EDITORA QUE SAIU DO EIXO
De: 40 reais
Por: 25 reais


Bienal de Quadrinhos de Curitiba - programação com Gian Danton


Blecaute e Uivo: uma comparação

O leitor Rodolfo Neto publicou em sua página no Facebook uma interessante resenha sobre O Uivo da Górgona, comparando-o com o livro Blecaute, de Marcelo Rubens Paiva.
Confira abaixo:

Quando eu tinha meus 16 anos mais ou menos tive contato com um livro chamado “Blecaute” escrito pelo Marcelo Rubens Paiva, o livro conta a história de três amigos que, quando voltam de um acampamento, descobrem que a cidade de São Paulo simplesmente paralisou no tempo. Dali em diante eles precisam recomeçar as suas vidas e lidar com a desolação de serem as únicas pessoas no mundo inteiro. O livro todo me chamou atenção por ser uma ficção pós-apocalíptica que se passa no Brasil, tratando de espaços em que o leitor pode facilmente reconhecer.

Agora, fazendo minhas leituras do material que comprei no GorpaCon 2016, me deparo com o “Uivo da Górgona” escrito pelo Gian Danton. O livro apresenta um grupo de pessoas que precisa sobreviver em uma cidade que foi totalmente dominada por seres errantes e sem vontade própria. Mas, enquanto em “Blecaute” o clima é de total perda de sentido da vida, no livro do “Uivo...” existe uma urgência motivada pelo instinto de sobrevivência desde as primeiras páginas, o que faz com que o livro seja tenso – algumas mortes acontecem quando você menos espera – e ao mesmo tempo rápido já que tanto os personagens quanto o leitor aprendem a ficarem em alerta para os perigos que rondam a cidade. O que me chamou mais atenção no livro é que em vários momentos eu me peguei pensando que algumas daquelas situações não acontecem apenas em ambientes extremos, mas que, diante do conforto do dia a dia, nós escolhemos não dar muita atenção pra certas coisas. Seja uma coisa bacana quando uma personagem diz que, devido a necessidade, começou a prestar mais atenção no cheiro das coisas ou mesmo casos de violência familiar que nós decidimos simplesmente não pensar muito a respeito.
Tanto “Blecaute” quanto “O Uivo da Górgona” conseguem chamar atenção por pensarem num Brasil apocalíptico, algo que a maioria dos leitores não está acostumado em ver. Mas, particularmente, o que me chama atenção em ambos os livros é que no fim das contas é que é um livro sobre pessoas. Sobre perda, ilusão e autodescobrimento. No fim o apocalipse é apenas o pano de fundo para uma jornada de descobrimento e amadurecimento das personagens e do próprio leitor. Sendo uma leitura recomendada para todos aqueles que apreciam uma boa ficção pós-apocalíptica com altas doses de desolação e questionamento moral.