segunda-feira, novembro 12, 2007


HISTÓRIA DOS QUADRINHOS 11
O Fantasma



Lee Falk foi o primeiro rotei­rista importante dos quadri­nhos. Antes dele já existiam outros como Dan Moore e Das­hiel Hammett que, no entanto, não assinavam seus trabalhos. Já Lee Falk era um pai coruja: Fa­zia questão não só de assinar suas criações, como exigia controle to­tal sobre elas. Uma das poucas vezes em que ele perdeu esse controle foi quando o Fantasma passou a ser publicado no Brasil com a cor vermelha substituindo o azul ori­ginal — isso aconteceu porque a história chegou ao Brasil sem re­ferência de cor e o vermelho pos­sibilitava uma melhor reprodução para as obsoletas máquinas tupiniquins
O primeiro personagem de Lee FaIk foi o mágico Mandrake, em 1934. Desenhado por Phil Da­vis, Mandrake era um mágico ra­cional, inspirado fisicamente no próprio Falk. O personagem, sempre envolvido em aventuras detetivescas, conquistou o público e é publicado até hoje. O grande sucesso de Falk, entretan­to, seria o personagem Fantas­ma, criado em 1936 e desenhado por Ray Moore.
O que diferencia o Fantasma de outros personagens é o seu ca­ráter de mito. Sua história pare­ce uma daquelas remotas lendas passadas de pai para filho: no ano de 1525 o único sobrevivente de um ataque pirata faz um jruamento: "Juro que dedicarei toda minha vida à tarefa de destruir a pirataria, a ganância, a crueldade e a injustiça. E meus filhos e os filhos de meus filhos me perpetuarão". Ele passa a usar, então, uma máscara e roupa colante e a perseguir malfeitores. Como o jura­mento valia também para seus descendentes, o povo da selva começou a pensar que o herói era imortal. Esse aspecto da tira deu um significado maior à história, tornando-a mitológica por excelência.
“O espírito que anda” teve o mérito de ser o primeiro herói de quadrinhos a usar máscara e ma­lha colada ao corpo. Nesse senti­do, todos os super-heróis devem a ele o seu visual. Na primeira his­tória o personagem usava tam­bém uma luva, que abandonou devido à inconveniên­cia de ter de tirá-la toda vez que quisesse deixar a marca do Fantasma em um malfeitor.
O primeiro desenhista a ilus­trar o personagem foi Ray Moo­re. Seu traço sombrio ajudou a criar o clima de mistério que en­volve até hoje o herói mascarado.
Fantasma de Ray Moore era atlético e sensual, com um forte toque “noir” realçado pelo som­breado pesado. Nenhum outro ar­tista conseguiu manter o nível de Moore, que desenhou o persona­gem de 1936 a 1942.
A partir de 1942, seu assisten­te Wilson McCoy pegou o perso­nagem. A princípio, McCoy seguiu a linha de Moore, tentando manter o nível de qualidade, mas com o tempo começou a ca­ricaturar os personagens dando a impressão de que as tiras eram feitas às pressas. Com a morte de McCoy, em 61, o Fantasma pas­sou a ser desenhado por Sy Barry, de traço bastante impessoal. Is­so deve ter ajudado para que ele tivesse uma multidão de assisten­tes - que muitas vezes faziam tu­do na história, tendo Sy Barry só o trabalho de assinar, quando muito.
Em 1977 o Fantasma se casou. A história, embora seja assinada por Sy Barry, foi desenhada pelo brasileiro André LeBlanc, que no Brasil foi um dos principais ilustradores dos livros de Monteiro Lobato, mas foi para os EUA, onde se tornou assistente de Will Eisner no Spirit antes de se juntar à equipe que ilustrava o Espírito que anda.
Lee Falk sabia que os detalhes fariam com que seu personagem ganhasse um aspecto de mito e não economizou neles, a começar pelos apelidos que o povo da floresta dão ao personagem, tais O Espírito-que-anda, o Homem que nunca morre, o Guardião das Trevas Orientais e outros. Os ditados referentes ao personagem também ficaram famoso: “O Fantasma é violento com os violentos”, “Dá medo ver o Fantasma enfurecido”, “O Fantasma atira mais rápido que o olhar”. Os símbolos também ajudam a compor a aura do personagem, como a caverna da caveira (local de sua moradia) e os anéis. O anel da caveira, usado na mão direita, marca os malfeitores, enquanto na mão esquerda fica um anel com a marca de proteção. Aqueles que têm essa marca serão sempre protegidos pelo personagem. Outros destaques são os companheiros animais do personagem, o lobo Capeto e cavalo branco Herói.
No Brasil o personagem fez muito sucesso nas década de 1940 e 1950, contribuindo para que seu editor, Roberto Marinho, ficasse rico o suficiente para montar uma emissora de TV, a Rede Globo. Atualmente, no Brasil, ele tem um público pequeno, mas fiel. Entretanto, em outros países, como a Austrália e a Escandinávia, ainda é o herói de quadrinhos de maior sucesso. Recentemente a revista do personagem alcançou o número 1.500, um recorde mundial.

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