quarta-feira, abril 25, 2007


A editora Abril lançou ano passado a revista Sala de aula, que pretende ser uma versão para o ensino médio da Nova Escola. O número mais recente, nas bancas, fala sobre o filme 300 de Esparta e como usá-lo na sala de aula. A base das aulas são as resenhas, matérias e artigos publicados na revista Veja. Comprei por curiosidade, já que o uso de mídias, como cinema, vídeo e quadrinhos na sala de aula. Mas, apesar da proposta da revista ser interessante, o que sobressai é o enorme preconceito que a Veja tem contra as histórias em quadrinhos (talvez pelo fato da editora Abril ter perdido todas as HQs ainda vendáveis para outras editoras).
No texto de Isabela Boscov (sempre ela!) “Lindo, forte e ingênuo”, ela escreve: “Graphic novels costumam comerciar em valores absolutos de heroísmo e vilania, sem semitons. Nada impede, porém, que os filmes baseados em graphic novels dêem um passo adiante e reconheçam as outras emoções que estão em jogo numa história como essa”.
No texto “Combate à sombra”, de Jerônimo Teixeira, este escreve: “A História, de Heródoto oferece mais drama moral e profundidade trágica que qualquer graphic novel já produzida”.
Ou seja: histórias em quadrinhos são e serão sempre inferiores ao cinema e à literatura.
Boscov e Teixeira provavelmente nunca leram graphics como Watchmen, de Alan Moore, ou Um Contrato com Deus, de Will Eisner, só para citar duas obras que fogem completamente do dualismo herói x vilão. Em Watchmen os heróis são pessoas absolutamente normais, com defeitos e qualidades e pelo menos um dos heróis, Rorchack, é mostrado como totalmente pirado.
Um contrato com deus conta a história de um imigrante judeu que faz um contrato com O Senhor de ser sempre bom, desde que ele lhe conservasse a saúde de sua querida filha adotiva. Mas o contrato é quebrado quando a menina morre e o imigrante, que antes era um herói bondoso, vira o vilão da história. Alguém aí falou em drama moral ou profundidade trágica.
Os colunistas da Veja lêm, quando muito, uma história em quadrinhos quando ela é transformada em filme (Isabela Boscov fez a resenha do filme V de Vingança sem ter lido a obra original). As críticas feitas podem até ter sentido para a obra de Frank Miller. Seus heróis não titubeiam, não têm dramas morais ou crises de consciência. Miller se especializou em analisar personagens tomados por uma missão. Em Cavaleiro das Trevas vemos um Batman que não recua diante de nada diante de sua missão de voltar a colocar ordem em Gothan e em 300 vemos um Leônidas decidido a impedir a passagem dos persas a qualquer custo. Não existem pessoas assim, que colocam sua missão acima de qualquer coisa? Por que um bom herói deve ser aquele que fica se lamuriando pelos cantos e duvidando eternamente se está fazendo a coisa certa ou não...
Decididamente, os piores resenhistas são aqueles que acham que sabem como determinado personagem deveria agir diante de determinada situação...

1 comentário:

Marcio Massula disse...

Realmente, chega a ser constrangedor que hoje em dia a grande mídia ainda dê essas mancadas.

Ainda me lembro, anos atrás, do comentário de um jornalista, na ocasião do lançamento do filme ESTRADA PARA PERDIÇÃO, que dizia, em tom de pilhéria que os autores, para disfarçar as verdadeiras origens do filme (uma história em quadrinhos) diziam que ela foi baseada num romance gráfico. Obviamente o sujeito nunca ouviu falar no termo "graphic novel". Isso já em tempos de internet.

Já o Jerônimo Teixeira é o acadêmico arquetípico. Eu me surpreenderia é se ele elogiasse as hqs. :-)))