domingo, janeiro 15, 2006

Sem repertório, nada feito...


Minha visita a Belém me fez pensar um pouco sobre algumas questões, inclusive sobre a cena quadrinística de Macapá. Tanto na Caverna do Gibi quanto na casa do Bené, acabei me deparando com um grande variedade de quadrinhos que dão uma visão ampla sobre como estão os quadrinhos. A conclusão a que cheguei é de que os quadrinhos, depois de uma longa época dominada pela editora Image em que a regra era todo mundo imitar todo mundo, agora se voltam para a variedade. Em termos de mangá, por exemplo, deparei-me com O Espinafre de Yukiko, de Fréderic Boilet (Ed. Conrad), que aplica o intimismo da nouvelle vague aos quadrinhos.
Nos quadrinhos americanos, foi uma surpresa perceber a variedade do que está sendo publicado (O Bené recebe tudo que é publicado pela DC Comics, de modo que eu podia ter uma visão bem ampla). Havia espaço para humor, realismo e até para a porralouquice inteligente de um Grant Morrison (seu trabalho mais recente, WE3, é sobre um cão, um gato e um coelho que são transformados pelo exército dos EUA em máquinas de matar e se rebelam).
Bené, por exemplo, depois de anos imitando o estilo de outros artistas, pôde finalmente mostrar o seu traço em toda a sua exuberância criativa (com a ajuda dos arte-finalistas José Rui e Jadson, ambos de Belém), o que transformou o título Hawkman em um sucesso de vendas.
Uma coisa é certa: a época Image, de revistas sem histórias, com estilos uniformes e heróis psicopatas que se expressavam por monossílabos está definitivamente enterrada.
Enquanto isso, as pessoas que tenho encontrado em Macapá e que gostam de quadrinhos, parecem estar num passado remoto e acreditam que estão no topo da onda.
Um deles, que dá cursos de quadrinhos por aí, me disse que Lobo Solitário não era mangá porque os personagens não tinham olho grande e que o legal seria se todo mundo no X-men tivesse a personalidade do Wolverine... é que gente que acredita que seja possível escrever e desenhar quadrinhos sem ler livros, ver filmes ou entender de arte.
Na verdade, o pessoal daqui parece tão desatualizado que é incapaz até mesmo de perceber o que está acontecendo, mesmo que a novidade esteja sob seus narizes. Para entender algo é preciso ter repertório. Exemplo: a primeira vez em que li Monstro do Pântano de Alan Moore, detestei. O Bené, quando leu, adorou logo de cara. A diferença entre nós é que o Bené tinha todo um repertório para entender e apreciar o que estava lendo, afinal ele já lia uma ampla variedade de quadrinhos desde muito novo...

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