sexta-feira, abril 26, 2024

Conan – Caos no país de Kush

 

Belas mulheres, uma ameaça sobrenatural e intrigas palacianas. Esse seria um bom resumo da história “Caos no país de Kush”, baseada num conto de L. Sprangue de Camp e Lin Carter e publicada em Conan the barbarian 106 e 107.

Na história, escrita por Roy Thomas e desenhada por John Buscema e Ernie Chan, Conan chega na cidade de Meroé, no reino negro de Kush a tempo de salvar a rainha, que está sendo atacando por uma turba enraivecida.

Tudo, na verdade, é parte do plano de um nobre, Lorde Tuthmes, que usou um demônio para matar um prisioneiro do palácio real, fazendo o povo achar que a rainha é uma feiticeira.

Ao salvar a governante, Conan se torna o capitão de sua guarda-real. Mas Tuthmes, vendo que a rainha não foi morta, resolve introduzir uma espiã no palácio, uma escrava da nemédia chamada Diana.

A rainha sádica e a assustada escrava. 


É aqui que a trama ganha fôlego, ao contrapor duas mulheres igualmente belas: a rainha negra e a escrava loira. O ponto alto da história é quando a rainha, com nítido prazer, tortura a escrava, tentando arrancar dela a razão pela qual o nobre a havia presenteado. Mas a garota não pode dizer nada, assustada que está com a possibilidade de ser morta pelo ser sobrenatural do início da história. O único ponto comum entre as duas é a beleza.

Claro que a escrava acaba sendo salva por Conan, o que se torna o centro da narrativa.

Os diálogos desse trecho revelam como Thomas sabia lidar com o texto. “Você é corajosa, mas vamos ver quanto tempo isso dura!”, diz a rainha, com um chicote longo nas mãos. “Não, não vamos”, diz Conan. “Quê? Como ousa se intrometer aqui, Conan da Ciméria? Vá embora ou provará meu chicote antes dela”, ameaça a soberana, ao que o outro responde, despreocupado: “Gostaria de vê-la tentar, Rainha”.

Saber desenhar cavalos é um atributo básico para histórias de espada e magia. 


John Buscema era um mestre em desenhar mulheres, o que contribuiu muito para que a história funcione. Mas logo no primeiro quadro da história, uma bela splash page, revela uma outra aptidão essencial para um artista de espada e magia: saber desenhar cavalos.

No Brasil essa história foi publicada pela editora Abril em Conan, o bárbaro 3.

Jornada nas Estrelas: Operação aniquilar

 


Em Operação aniquilar, a Enterprise segue o rastro de uma epidemia de loucura que pula de um planeta para o outro. No que parece o mais recente planeto afetado mora o irmã de Kirk e sua família, o que acrescenta um interesse pessoal para o capitão. Quando descem para investigar, descobrem seres gelationosos que, aparentemente são os responsáveis pela loucura. Um deles se instala em Spock, controlando-o para que assuma o poder da nave.
É um plot interessante, mas com problemas de roteiro que comprometem o conjunto. O maior deles está ligado diretamente na pesquisa que leva à resolução do problema.
Quando conseguem descobrir o que mata a criatura resolvem testar num ser vivo sem nem mesmo revisar ou mesmo avaliar os resultados da pesquisa anterior – e o resultado, claro, é desastroso. Um resultado, aliás, que é revertido a uma situação que pode ser encarada como um deus ex machina. Para quem tem uma noção básica de como funciona uma pesquisa científica, fica o pensamento: como, a história se passando num futuro longíncuo, os caras conseguem errar no básico dos passos de uma pesquisa?
O que salva o episódio é atuação monumental de Leonard Nimoy, que consegue demonstrar com perfeição tanto quando está sendo controlado quando está resistindo a esse controle. E faz isso com uma atuação extremamente contida, sem gestos bruscos ou caretas. Vale destacar também o restante do elenco, em especial Kirk e McCoy. Nem Willam Shatner nem Jackson DeForest Kelley estavam no nível de atuação e Nimoy, mas era impressionante a sintonia entre eles, o que o muitas vezes acaba salvando episódios menores, como este Operação Aniquilar. 

Zuzu Angel

 

O filme Zuzu Angel (Sérgio Resende, 2006)  conta a história da estilista brasileira, famosa nos EUA, que teve um filho preso, torturado e morto pela Ditadura Militar. A partir de então, empreendeu todos os esforços para tentar achar o filho do corpo e depois, quando ficou claro que nem o corpo existia mais, denunciar o ocorrido. É um filme que poderia cair facilmente no dramalhão, algo como foi Olga, mas foi salvo pelo ótimo roteiro e pela direção inspirada. Os personagens são muito bem trabalhados, como ótimas interpretações de Patrícia Pillar no papel título e Daniel de Oliveira como o filho.
Um recurso narrativo interessante foi contar a história através de flash-backs. Zuzu recebe a confissão de um dos torturadores que mataram seu filho e está fugindo dos militares, na tentativa de passar os documentos para a Anistia Internacional. E o restante da história é contado com flash backs sobre flash backs, de forma não-linear. Um filme soberbo. Destaque também para a ótima abertura com fotos da época e a pungente música: “Não se assuste pessoa, se eu te disser que a vida é boa!”.

Thor contra o Homem-lava

 


No número 97 da revista Journey into Mystery, a dupla Jack Kirby – Stan Lee voltou, provavelmente para alívio dos leitores, que vinham acompanhando uma sequência sofrível de histórias capitaneadas por outros autores. A HQ desse volume nem longe se compara aos grandes momentos da dupla no título do deus do trovão, mas mesmo assim é divertida e empolgante.

Na trama, um ser de lava sai de um vulcão disposto a expulsar a humanidade da superfície da terra: “Há muito tempo habitamos o subsolo enquanto vocês, fracotes, usufruem os benefícios da superfície!”. É uma trama reciclada, já que tanto o Toupeira quanto Namor tinham motivações semelhantes, mas quem liga?

Kirby devolveu grandiosidade ao título. 


A ameaça parece realmente impressionate. O vilão é capaz de derreter as armas dos soldados, de modo que as pessoas fogem da cidade, apavoradas. Enquanto a cidade pega fogo, Don Blake tem outras preocupações: ele está apaixonado por Jane Foster, mas teme dizer-lhe e depois não ter a autorização de Odin para realizar esse amor (de fato, quando consultado, o soberano de Asgard chama o filho de louco). A moça, ofendida, resolve mudar de clínica.

Jane Foster fica muito mais bonita com a arte-final de Don Heck. 


Quando finalmente resolve deixar de lado suas preocupações românticas, Thor enfrenta o Homem de lava e o leitor se alegra ao perceber que, no traço de Kirby, o personagem voltou a ter a grandiosidade que merecia. A forma como ele derrota o vilão também é verossímil, ao contrário das edições anteriores, em que o roteirismo imperava.  

Uma curiosidade é que essa história é arte-finalizada por Don Heck, que faz um bom trabalho, dando um ar diferente ao traço de Kirby. A enfermeira Jane Foster, por exemplo, fica muito mais bonita. 

Riding the Bullet, de Stephen King

 


No final do ano de 2000 a internet nos EUA foi abalada por um fenômeno sem precedentes: o lançamento do e-book Riding the Bullet (Montando na bala), de Stephen King. O interesse foi tamanho que os sites envolvidos chegaram a travar.

A história é aparentemente prosaica. Alan Parker é um estudante da Universidade do Maine quando recebe uma ligação dizendo que sua mãe teve um derrame e foi internada. Desesperado, ele pega uma mochila e sai pela estrada pedindo carona. E acaba descobrindo, tarde demais, que a pessoa que lhe deu carona na verdade já está morta.

Por trás dessa trama fantasmagórica se esconde uma história de forte teor humano. Riding nos faz pensar sobre nossa relação com as pessoas queridas e o que elas representam para nós. É muito mais uma história sobre a morte e a vida. Não por acaso, King a escreveu quando estava em uma cama de hospital, vítima de atropelamento quase fatal.

Em Riding vemos o autor de Carrie em sua plena forma, com um terror que se encontra nos detalhes. King não precisa de monstros para provocar medo. A tensão pode estar na forma de alguém puxar a calça, ou em um cheiro de morte. Detalhes assim nos fazem entrar na história.

A única falha tem relação justamente com a mídia encontrada para divulgar o volume. São aproximadamente 60 páginas e King escreveu direto, sem fazer sequer capítulos. A tendência dos e-books são capítulos curtos, que permitem ao leitor interromper a leitura na tela no momento em que quiser.  Ou seja, Riding é um livro virtual que não tem característica de livros virtuais.

Futuramente, esse conto lançado de forma virtual foi incluído na coletânea Tudo é eventual, lançado aqui em 2005 pela editora Objetiva. A tradução ficou como Andando na bala.

Fundo do baú - Thunderbirds

 


Thunderbirds é um dos mais criativos seriados de todos os tempos e também um dos mais queridos.
O seriado surgiu em 1965 e era o ápice do trabalho dos ingleses Gerry e Silvia Anderson, que já haviam lançado seriados com marionetes, mas foi com Thunderbirds que eles alcançaram a fama e encantaram milhões de fãs no mundo todo.
O seriado contava a história de um ex-astronauta que liderava de uma organização chamada resgate internacional. Quando havia algum acidente, sua equipe entrava em ação para socorrer os necessitados.
O que chamava atenção no seriado era o detalhismo dos bonecos e dos veículos usados, entre elas um avião, um submarino e até uma estação espacial. Além disso, eles usavam jargões que se tornaram célebres, como “Thunderbirds em ação”, que posteriormente foi copiado por outras séries.
Foram produzidos 32 episódios.

quinta-feira, abril 25, 2024

Surfista Prateado – amargo regresso

 


Na década de 1980, Stan Lee já estava aposentado dos quadrinhos. Mas voltava de tempos em tempos para escrever uma história de seu personagem predileto. E qual era seu personagem predileto? O Surfista Prateado.
Em 1982 eles e John Byrne (que a esta altura já era uma estrela de quadrinhos graças à sua passagem pelos X-men) se uniram para produzir uma revista única do herói, que acabava funcionando como canto do cisne para o personagem e fechava algumas pontas soltas.
O Surfista consegue vencer a barreira de Galactus graças a Reed Richards... 

Na HQ, O Surfista, graças a uma invenção de Reed Richards, consegue finalmente vencer a barreira de Galactus e voltar para seu planeta Zenn-la. Mas há uma ressalva: se voltar para a Terra, ele ficará enternamente preso aqui.
Chegando lá ele descobre que seu planeta está arruinado graças à vingança de Galactus por seu arauto ter se voltado contra ele na Terra.
E Shalla Ball, sua amada, não está lá. Tudo leva a crer que uma garota que ele encontrou em uma das histórias da série clássica na década de 1960, é na verdade ela, hipnotizada por Mefisto.
...Mas encontra seu planeta devastado.

É uma história deliciosa em todos os sentidos, num perfeito equilíbrio dos elementos que fizeram do Surfista um clássico. Há o herói amargurado e filosófico, as viradas no roteiro, surpreendentes, mas absolutamente plausíveis. E o texto de Lee parece ter melhorado com o tempo, tornando-se mais poético. Os desenhos de Byrne (que é co-autor da história), funcionam bem, embora a arte-final de Tom Palmer nem sempre consiga captar a sutileza que a histórira exija.
A capa original, que não foi usada pela Abril.

O grande momento da história é o final, triste, mas poético. Seria o final perfeito caso essa fosse a última história do personagem.
Aqui essa história foi publicada na revista Heróis da TV 70 e foi um dos números que mais marcaram os fãs, em especial graças a essa HQ. Em tempo: a Abril descartou a capa original e usou uma imagem interna da história como capa. Ao meu ver um a decisão acertada.

Elektra vive

 


Uma das grandes inovações da primeira fase de Frank Miller no Demolidor foi a criação de Elektra, a grande paixão do herói. O fato dela ser uma assassina criou uma dinâmica única na série e um dilema ética para o herói poucas vezes visto nos quadrinhos de super-heróis. No auge da fama, Miller matou a personagem (em uma sequências mais emocionantes das HQs de todos os tempos). Mas provavelmente se arrependeu.
Elektra reapareceu logo depois, em uma HQ curta em que Murdock delira imaginando que personagem está viva. Depois em uma HQ em que o tentáculo tenta trazê-la de volta, sob controle dos assassinos. E, finalmente, em Elektra vive, publicada no final de década de 1980.
Quando o álbum foi publicado, Miller estava no auge da fama, o que lhe permitiu impor um formato gráfico diferenciado para os quadrinhos americanos. E estava no auge de sua capacidade como narrador gráfico. A começar pela capa, apenas como os créditos, título e a personagem andando em meio à neve. Outro destaque é a sequência de página inteira em que Murdock desce as escadas de seu apartamento. Com forte influência de Will Eisner, Miller aproveita a tendência do leitor de visualizar a página de cima para baixo para construir sua narrativa.
Miller assimilou muito bem a influência de Will Eisner. 


As cores de Linn Varley, esposa de Miller, destacam ainda mais a arte exuberante (bons tempos em que Miller sabia desenhar!!!).
A sequência em que Murdock vai à igreja para se confessar é relevante e revela muito sobre o personagem e suas origens católicas (algo que foi muito bem aproveitado na primeira temporada da série da Netflix). Mas as várias sequências de sonhos e do personagem se lembrando da personagem parecem apenas uma repetição do que Miller já tinha feito na revista do Demolidor.
A arte é impressionante. Mas a história era necessária? 


Enfim, a pergunta: apesar da qualidade visível do álbum, era mesmo necessária uma história a mais com Elektra?
Elektra Vive foi publicada no início da década de 1990 pela editora Abril e volta agora em um álbum capa dura pela editora Panini.

Eric, de Terry Pratchett

 


O escritor inglês Terry Pratchett revoluciou a literatura de fantasia ao introduzir o humor no gênero, algo parecido com o que Douglas Adams fez com a ficção científica em O guia do mochileiro das galáxias (não por acaso, os dois são inglese).

Pratchett criou um mundo fantático que consite num disco sustentado por elefantes equilibrados nas costas de uma tartaruga. Um local onde ser mago é uma profissão possível e qualquer coisa pode acontecer.

O autor aproveitou a série para satirizar tudo, da vida moderna aos clássicos. Nessa última categoria pode ser incluído o livro Eric, lançado no Brasil pela Conrad em 2005.

Como a capa indica, Eric é uma versão humorística de Fausto, o homem que vendeu sua alma ao diabo (no título Fausto aparecer riscado e Eric aparece escrito em cima com letras infantis).

Na trama, Rincewind, o desastrado mago que fora enviado para o calabouço das dimensões em um livro anterior, volta para Discworld ao ser convocado por um demonólogo. Na verdade, o demonólgo, o garoto Eric Thusley, estava tentando chamar um demônio, mas o que apareceu foi o mago.

Eric faz três exigências: ter o domínio de todos os reinos do mundo, a mulher mais bonita que já existiu e viver para sempre.

Mas, como alerta Terry Pratchett, qualquer mago esperto que sabe o bastante para sobreviver por cinco minutos também é esperto o bastante para perceber que, se há algum poder na demonologia, ele está nas mãos dos demônios: “Usá-los em benefício próprio seria como tentar matar ratos batendo neles com uma cascavel”.   

Ou seja, o lance todo do pacto com demônios consiste em dar tudo que a pessoa pediu e, ao mesmo tempo, tudo que ela não quer. E, embora Rincewind não seja um demônio, é exatamente isso que acontece.

Ao se tornar o senhor do mundo, por exemplo, Eric, juntamente com Rincewind são enviados para um país no meio da selva, Tezuman.

Eric imagina que estar em em misterioso reino amazônico onde lindas princesas submetem seus prisioneiros a ritos de procriação estranhos e exaustivos. E, de fato, há em Discworld alguns desses reinos, onde a maioria dos exploradores são submetidos a tarefas exclusivamente masculinas. A maioria, entretanto, não sobrevive depois de anos instalando tomadas, montando prateleiras, cortando a grama do quintal ou verificando barulhos estranhos no sótão.

Acontece que os tezumanos são o povo mais irratável, pessimista e sombrio desse local. Eles cultuam um deus jibóia enfeitado de plumas que exige sacrifícios.

Eric é recebido com toda a pompa e ganha diversos presentes, para logo depois ser preso, juntamente com o mago, pelos tezumanos que querem finalmente se vingar do dono do mundo por ter colocado eles num país tão ruim, cheio de pântanos, de mosquitos, o fato das rodas de pedra nunca ajudarem a movimentar as coisas por mais que fossem colocadas na horizontal e puxadas com cordas.

Claro, eles se livram dessa enrascada, mas só para cair numa arapuca ainda maior.

A mulher mais bonita do mundo é Helena de tróia, Eleonor na versão de Discoworld, e os dois vão parar em plena guerra de troia só para descobrir que a mulher mais linda de todos os tempos se tornou uma matrona rodeada de crianças. “Ela parece com minha mãe!”, reclama Eric.

E a saga segue pelo início do mundo (afinal, quem quer viver para sempre teria que voltar até a origem dos tempos) e até uma visita ao inferno, que virou uma colônia de férias em que o objetivo é tornar tudo o mais tedioso possível.

Tudo isso misturado com os comentários irônicos de Terry Pratchett que pontuam toda a obra.

Enfim, um livro rápido e divertido.  

O tigre branco

 


Eu gosto de narrações em off. Mal feitas, elas se tornam muletas narrativas, contando o que as imagens já estão narrando, mas bem feitas, elas ajudam a dar significados às imagens e aprofundar a trama, a ambientação e os personagens. Ótimo exemplo desse segundo caso é O tigre branco, filme do indiano Ramin Bahrani, de 2021.

O filme conta a história de Balram Halwai, um garoto prodígio de um pequeno vilarejo da Índia, que, apesar dos ótimos resultados na escola, é obrigado pela família a parar os estudos para trabalhar em uma loja de chás.

Mas a vida de Balram começa a mudar quando o filho mais novo da família de mafiosos volta dos EUA e ele vê a possibilidade de se tornar motorista do mesmo. O filme começa no meio da história, quando a esposa do rapaz pega o carro e Balram assiste do banco de trás, prevendo que algo errado irá acontecer. Então começa a narrativa em off, segundo a qual aquela era a maneira errada de começar uma história, já que na Índia sempre se começa com um oferecimento aos deuses.

A narrativa aqui funciona como desconstrução tanto dos filmes indianos (há outros momentos de desconstrução, inclusive com quebra da quarta parede, no final), quanto da imagem que se tem da Índia. A índia paradisíaca e turística não combina com a Índia real, em que um emprego de motorista é disputado de todas as formas e o sistema de castas parece subsistir até os dias atuais – com possibilidades mínimas de ascenção social. É também uma desconstrução do discurso de empreendedorismo. À certa altura, o personagem diz: Só existem duas formas de um pobre subir na vida em meu país: através do crime e da política. No seu país também é assim?

O tom sociológico pode dar a entender que se trata de um filme modorrento, chato, mas é exatamente o oposto disso que vemos em O tigre branco. Tanto a primeira parte, dominada pelo otimismo e com pegadas de humor, quando a segunda e sombria parte funcionam muito bem como narrativa envolvente.  

Propaganda é a alma do negócio

 


publicidade é o mais conhecido método de promoção, mas não necessariamente o de maior retorno. Enquanto outras estratégias, como a de prêmios, concursos e amostras, podem ter um impacto imediato sobre as vendas, a publicidade pode se refletir nas vendas só depois de um longo período. Entretanto, esse é o tipo de promoção que produz os resultados mais duradouros. Sendo assim, a publicidade tem resultados lentos, mas sólidos.
Por isso, chega a ser engraçado ver aqueles donos de lojinhas que colocam um anúncio na TV e acham que no dia seguinte o seu estabelecimento estará repleto de fregueses. O bom resultado de uma publicidade depende de uma série de fatores, entre eles a escolha da mídia correta e do horário certo. Exemplo disso é o caso de um colégio de Belém (PA) destinado ao público de alto poder aquisitivo. Os diretores do colégio foram procurados por um locutor de rádio que lhes fez uma proposta tentadora de divulgação. Como resultado, o colégio viu seu produto ser anunciado em um programa brega, transmitido ao vivo de uma das praias mais populares do Pará. Como resultado, o colégio foi associado com algo popularesco e de baixa qualidade, justamente o oposto da imagem que se pretendia passar. Foi necessário fazer toda uma nova campanha só para desfazer a imagem negativa que esse episódio deixou.
Antes de fazer qualquer anúncio publicitário, o profissional de publicidade deve ter em mente a resposta para duas perguntas: Para quem estou enviando essa mensagem? Com que objetivo?
A resposta de “Para quem?” define o público-alvo. Se o público-alvo são os executivos, não se deve anunciar no programa da Xuxa. Se o público-alvo são os operários que acordam cedo e, portanto, dormem cedo, não se vai anunciar em programa de madrugada. Caso o público-alvo more no interior, em regiões em que o rádio tem mais força que a televisão, o mais interessante é anunciar no rádio.

A resposta para “Com que objetivo?” dá o enfoque da campanha. Pode, por exemplo, ser uma campanha de varejo, que tem como único objetivo vender um produto específico. Mas pode ser também um anúncio que tem como objetivo criar uma boa imagem da marca, levando o consumidor a tornar-se fiel a ela. As respostas para todas essas perguntas são conseguidas através do briefing. 

Uma dúvida frequente é: qual a diferença entre publicidade e propaganda? Publicidade vem do latim “publicus”, ou seja, aquilo que é público, e era usado para os anúncios de produtos pintados nos muros das casas. Já propaganda vem da palavra, também latina, “propagare”, difundida pela igreja católica por meio do Congregatorio Propaganda Fide (congregação para propagação da fé) na época da contrarreforma.  Assim, publicidade passou a designar a divulgação de produtos e serviços, e a propaganda passou a representar a divulgação de ideologias, partidos etc. Assim, existe a publicidade do Bombril e a propaganda política. No entanto, no Brasil, os dois termos são usados como sinônimos no dia a dia das agências de publicidade.

Senhor das estrelas

 



Em 1977, o roteirista Chris Claremont, o desenhista John Byrne e o arte-finalista Terry Austin eram ilustres desconhecidos. Nesse ano, entretanto, eles produziram juntos uma obra-prima que antecipava em alguns anos os melhores momentos do trio nos X-men. Trata-se de Senhor da Estrelas.
Publicada originalmente na revista Marvel Preview (e republicada aqui em Heróis da Tv 70 e 71), Senhor da Estrelas, como o próprio nome diz, era uma história de ficção-científica: mostra um herói salvando um grupo de pessoas escravizadas.
No meio do salvamento ele descobre que a atividade está sendo usada para gerar dinheiro para um golpe de estado no império galáctico – e, como a ajuda de um garoto e uma garota salvos por ele, irão impedir que isso aconteça.
É uma trama space opera, com direito até mesmo a luta de espadas, mas não soa artificial. A trama se desenvolve de forma verossímil. A história traz inclusive uma inovação interessante: na trama, a nave é um ser vivo apaixonada pelo senhor das galáxias (à certa altura ela chega mesmo a criar uma imagem feminina).
Claremont é conhecido por escrever exageradamente e aqui ele escreve muito, mas o texto não é supérfluo.

Já o desenho é uma atração à parte. Byrne sempre teve um traço elegante, mas nessa HQ se supera, brincando com a diagramação – em certa sequência, um mostro destrói um barco, avançando pelos quadros, junto com o texto. Já o arte-finalista Terry Austin não só torna o traço de Byrne mais refinado como o elabora ainda mais, com o uso, por exemplo, de retículas. Detalhada em alguns momentos e apenas delineada em outros, a arte-final se encaixa perfeitamente no desenho.
Infelizmente essa fase do personagem na época teve poucas histórias. E, sim, esse é o mesmo personagem dos filmes do Guardiões da Galáxia, embora nos filmes ele seja muito diferente. 

A arte cativante de Bill Walko

 


Bill Walko é um ilustrador norte-americano conhecido por seus trabalhos para a Image Comics, Dynamite, DC, Dark Horse e para o jornal New York Times.

Ele também criou a aclamada tira humorística The Hero Business, que satirizava o mundo dos super-heróis e foi publicada New Friday Comics. A tira aproveitava muito bem o estilo de traço que unia a anatomia dos super-heróis com o estilo cartunístico.

Walko também ilustrou diversas campanhas publicitárias nos EUA.















quarta-feira, abril 24, 2024

Spaceballs

 

Spaceballs foi lançado no ano 2000. Foi o sexto volume da coleção Fantástica, organizada por Cesar T. Silva e Marcelo Simão Branco, ambos editores do zine Megalon.
O título da história é uma referência à música homônima do Pato Fu. Para quem não conhece, Spaceballs é uma letra pacifista sobre pessoas com seus longos cabelos que atravessam o universo. Eles não têm a glória da guerra porque simplesmente não acreditam na guerra. Isso me levou a refletir sobre como a ficção-científica, em especial a space opera, é militarista. Até mesmo Jornada nas Estrelas, uma série pacifista, tem militares como protagonistas.
O editor apresentou assim o livro: “Nesta edição a ação vai para o espaço, literalmente. Um grupo de revolucionários hippies sequestra uma astronave e, sem usar de qualquer organização hierárquica, conseguem lubridiar todo o aparelho repressor do estado totalitário que domina o mundo em sua realidade. Uma história bem ao gosto dos leitores que apreciam a aventura no estilo agradável e bem desenvolvido de Gian Danton”.
A coleção Fantástica foi um marco na ficção-científica brasileira. Em formato de bolso, edição praticamente artesanal, custava 20 reais a assinatura com todos os números. Foram iniciativas como essa que seguraram a FC nacional em uma época em que as editoras tinham banners nos quais se lia: “Não aceitamos originais de ficção-científica, fantasia e terror”.

Sargento Rock – O soldado sorvete

 


Muitas das histórias da série Sargento Rock são sobre soldados que encontram forças para feitos extraordinários, superando as expecativas que todos têm a respeito deles. Exemplo disso é a história o soldado sorvete, publicada em Our Arm at war 85.

A história começa com o sargento explicando que o lema de sua companhia é “quando você está na moleza... não há moleza para você!”. Em seguida começa a falar dos vários tipos de aparecem por lá, entre eles alguns que parecem menos aptos, a exemplo do soldado Phil. Em sua missão, o garoto se jogou no chão da trincheira quando começou o fogo inimigo: “Eu tava na cobertura, sargento, quando vi a artilharia pesada do inimigo. Era chumbo quente suficiente para nos derreter!”.

O soldado sorvete não faz nada certo... 


Pronto, o recruta acabara de ganhar um apelido: “Então ele tem medo de derreter... deve ser um soldado sorvete!”.

A história continua com situações e mais situações em que o soldado sorvete parece cada vez mais inapto para o serviço militar, se jogando chão na hora errada, congelando nos momentos mais decididos. Enquanto isso, o tempo vai esfriando e o garoto sofre uma ulceração nos pés. Mas é nesse momento que o soldado sorvete mostra o seu valor, salvando sua companhia.

... mas no final encontrará a redenção. 


Como é comum nas histórias escritas por Robert Kanigher, a história conclui com uma piada sobre o mote da história e ao mesmo tempo, uma lição, quando o rapaz diz: “Lutar no gelo não é difícil... pelo menos para um soldado sorvete, certo?”.

Vale destacar nessa história o desenho espetacular do Joe Kubert, que consegue transmitir tanto a insegurança do personagem no início, quanto sua resolução, no final.

Flash Gordon e Jornada nas Estrelas - as versões animadas

 


Consegui com amigos algumas preciosidades: os desenhos animados de Jornada nas Estrelas, Planeta dos Macacos e Flash Gordon. Todos foram produzidos pela Filmation, a mesma que depois ficaria famosa com os desenhos de He-mam e She-ha.

A Filmation conseguia ser particularmente irritante quando queria fazer desenhos humorísticos. Alguns devem se lembrar de pelo menos umas três séries em que os personagens andavam duros e tocava uma musiquinha repetitiva de fundo, algo como íon íon íon...

Mas era uma boa produtora de desenhos mais sérios, especialmente de Ficção-científica.



O desenho de Flash Gordon é relativmente fiel à série de Alex Raymond, o que talvez seja um defeito. Flash Gordon é uma space opera, um tipo de ficção que se sustentava com um perigo a cada tira e um monstro a cada semana. Aprofundamento de personagens ou tramas mais elaboradas, nem pensar. A série da Filmation pega exatamente esse clima juvenil de catarse em que um herói vence todos os perigos e ainda conquista todas as moças bonitas que passam pela sua frente. Uma única mudança estranha é o visual da filha do vilão Ming. Nos quadrinhos ela é uma gata com saias esvoaçantes semi-transparentes. Nos desenhos ela parece um protótipo de She-ha.

Em Flash Gordon eles repetem à exaustão uma cena em que o herói corre na direção da câmera. Ela obviamente foi feita com uma técnica, a rotoscopia, em que se filma atores e depois se desenha em cima, o que dá um ar realista. Ficou tão bom que depois eles repetiram a mesma cena em He-man e Tarzan, só mudando os personagens e o fundo.



Bem melhor é a série animada de Jornada nas Estrelas. Produzida pelo mesmo pessoal que fazia a série live-action, ela tem todos os elementos do original, mais o charme da animação. Há epsiódios pavorosos, como O vulcano infinito, que lembra muito um episódio da série original, o cérebro de Spock. Na história, seres vegetais raptam spock para cloná-lo em tamanho gigante e transformá-lo numa espécie de campeão da paz na galáxia. Lamentável. Mas também há bons episódios, como Perdido no esquecimento, que explora a infância de Spock e suas dúvidas sobre seguir mais sua origem vulcana ou humana. Há episódios divertidos, como O computador humorista, ou Mais pingos, mais problemas e outros mais críticos como A mágica de Megas-tu. Outros são muito criativos, como Paralelos, em que a Enterprise vai parar em uma dimensão em que tudo é ao contrário.

No final, entre mortos e feridos, salva-se todos. Pelo menos para os fãs.

Infelizmente o desenho só teve 22 episódios produzidos. As histórias, apesar de algumas concessões, eram adultas demais para crianças e os adultos não tinham costume de assistir a desenhos animados. Também pesou negativamente o fato de que a série foi transmitada em horário ruim, de manhã, na hora do trabalho, quando os fãs não podiam assistir.